No Palácio do Planalto, o ambiente está longe de ser de consenso após a recente decisão do governo de Lula de revogar mudanças na fiscalização do Pix. A medida, que visava combater a sonegação fiscal, foi suspensa após uma onda de desinformação e críticas que causaram um desgaste significativo na imagem do governo. Ministros próximos ao presidente Lula têm expressado preocupações sobre a falta de cálculo político na implementação inicial da política e apresentado divergências sobre se o recuo foi a melhor estratégia.
A norma da Receita Federal, que exigia a comunicação de transações acima de R$ 5.000 via Pix, foi mal recebida pelo público e explorada pela oposição, especialmente após um vídeo viral do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) que sugeriu uma possível taxação do Pix. A reação negativa foi intensificada nas redes sociais, levando a um aumento na insegurança sobre o meio de pagamento.
Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, argumentou que a revogação da norma foi necessária para “retirar o combustível da oposição” e evitar que a desconfiança sobre o Pix crescesse ainda mais. Ele enfatizou que a medida provisória para assegurar a gratuidade e o sigilo do Pix foi uma tentativa de conter os danos causados pelas fake news. No entanto, Haddad reconheceu que houve uma falha na comunicação e na avaliação do impacto político da medida.
Por outro lado, há ministros que acreditam que o recuo pode ter sinalizado fraqueza política. Um interlocutor anônimo do presidente Lula afirmou à imprensa que o governo deveria ter desafiado os opositores e mantido a política original, deixando claro que o Pix não seria taxado e que a fiscalização era necessária para combater a sonegação. “Quem não deve, não teme”, foi o ditado utilizado para expressar essa visão.
A decisão de revogar a instrução normativa também levantou críticas internas. Alguns membros do governo veem a situação como um erro crasso tanto na comunicação quanto na condução política, sugerindo que o governo poderia ter se preparado melhor para a reação do público e da oposição. A percepção de que o governo cedeu às pressões das redes sociais e das fake news poderia afetar a popularidade de Lula, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte.
O novo Ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, tem a missão de ajustar o discurso do governo para evitar futuros desgastes semelhantes. A comunicação e a gestão de crises serão, sem dúvida, áreas de foco nos próximos anos, à medida que o governo busca navegar pela complexidade do ambiente político digital e as expectativas de uma população cada vez mais informada e ativa nas redes sociais.
A “ressaca do Pix”, como está sendo chamada, deixa claro que a política fiscal e a comunicação governamental precisam de uma estratégia mais robusta para enfrentar os desafios da era digital, onde a informação – ou a desinformação – pode se espalhar rapidamente com consequências imprevisíveis.
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