Para evitar debandada precoce e disputa interna, Lula muda estratégia e passa a confirmar candidatura à reeleição

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentando um cenário de baixa popularidade e pressões internas, decidiu ajustar sua estratégia política e confirmar sua candidatura à reeleição em 2026. A mudança, noticiada pelo jornal O Globo, visa conter possíveis deserções de partidos aliados e evitar uma disputa fratricida dentro do próprio governo por sua sucessão. Com pesquisas apontando alta rejeição e aliados do Centrão cogitando apoiar candidaturas bolsonaristas, Lula entendeu que manter a dúvida sobre sua participação na próxima eleição poderia enfraquecer ainda mais sua base. Ao afirmar que está no páreo, o presidente busca sinalizar à classe política que segue como protagonista, reforçando sua imagem de liderança indispensável para o PT e seus aliados.

A decisão também responde à necessidade de barrar embates internos. Nos corredores da Esplanada dos Ministérios, nomes como Fernando Haddad, Camilo Santana e Rui Costa já são vistos como potenciais postulantes à Presidência, o que poderia fragmentar o governo caso Lula hesitasse. Em conversas com senadores, como relatado pelo senador Humberto Costa, presidente interino do PT, Lula deixou claro que a questão está “superada” e que ele é o “plano A” do partido. O petista tem intensificado agendas pelo país, com viagens que visam recuperar o apoio popular através de pautas como a isenção de Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil e a PEC da Segurança Pública, apostando em contato direto com a população para reverter a queda de aprovação.

A estratégia, no entanto, carrega riscos. Partidos do Centrão, como MDB, PSD, Republicanos, PP e União Brasil, que controlam ministérios e têm forte presença no Congresso, não garantem fidelidade para 2026. Como destacou o deputado Hugo Motta à CNN Brasil, o apoio dependerá da estabilidade econômica e da popularidade de Lula, que hoje enfrenta dificuldades para “furar a bolha” e dialogar com eleitores fora de sua base tradicional. A memória de debandadas passadas, como no governo Dilma Rousseff, pesa nas articulações. Lula, ciente do terreno instável, já iniciou conversas com aliados, como o senador Omar Aziz, para costurar palanques regionais, como no Amazonas, e planeja uma reforma ministerial para acomodar interesses de siglas aliadas.

Apesar da liderança nas pesquisas, como indicado pela Genial/Quaest, que mostra Lula à frente em cenários de segundo turno, o presidente enfrenta um cenário mais competitivo que em eleições anteriores. A oposição, embora fragmentada, vê nomes como Tarcísio de Freitas ganhando força, enquanto a esquerda segue refém da figura de Lula, sem um sucessor consolidado. A confirmação da candidatura é, portanto, uma jogada para manter a coesão da base e evitar que o PT repita o fracasso de 2020, quando não conquistou nenhuma capital. Com 79 anos e histórico de superação política, Lula aposta em sua resiliência para reverter o desgaste e segurar as rédeas do governo até 2026.

O desafio agora é transformar indicadores econômicos positivos, como crescimento e baixa taxa de desemprego, em capital político. A chegada de Sidônio Palmeira para reformular a comunicação do Planalto é um sinal de que Lula reconhece a necessidade de mudar a narrativa. Enquanto isso, o PT, sob a liderança de Gleisi Hoffmann, defende uma aliança mais ampla ao centro, reeditando a frente ampla de 2022, mas com o desafio de evitar que concessões aos aliados fortaleçam futuros adversários. A corrida presidencial, que Lula já declarou ter começado, promete ser uma das mais acirradas desde a redemocratização.

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