Nesta segunda-feira, 21 de abril de 2025, têm início em Washington as audiências de um processo histórico contra o Google, que pode redefinir o futuro de seu serviço de buscas e o mercado de tecnologia global. Liderado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o caso acusa a gigante de manter um monopólio ilegal no mercado de buscas online por meio de práticas anticompetitivas, como acordos financeiros multibilionários com empresas como Apple e Samsung para garantir que seu mecanismo de busca seja o padrão em navegadores e dispositivos móveis. Em agosto de 2024, o juiz federal Amit Mehta determinou que o Google violou leis antitruste, apontando que os pagamentos de US$ 26 bilhões em 2020 bloquearam concorrentes como Bing e DuckDuckGo de ganhar espaço. Agora, as audiências na Corte Distrital de Washington decidirão as medidas para desmantelar esse domínio, com propostas que incluem a venda do navegador Chrome e mudanças estruturais no modelo de negócios da Alphabet, controladora do Google.
O julgamento, que deve durar três semanas, é visto como o mais significativo contra uma empresa de tecnologia desde o caso da Microsoft, há 25 anos, e pode alterar a dinâmica do Vale do Silício. O Departamento de Justiça argumenta que os acordos exclusivos do Google prejudicaram a concorrência, elevaram preços de anúncios e limitaram a inovação, enquanto a empresa defende que sua liderança se deve à qualidade do serviço, não a práticas ilícitas. Kent Walker, diretor jurídico da Alphabet, afirmou que os usuários escolhem o Google por preferência, e que mudar o buscador padrão é simples, comparando os acordos a práticas comuns, como marcas pagando por espaço em supermercados. A decisão também ocorre em um momento delicado, após outro revés para o Google na semana passada, quando a juíza Leonie Brinkema, na Virgínia, determinou que a empresa manteve um monopólio ilegal no mercado de publicidade digital, reforçando o cerco regulatório.
As implicações do caso vão além do Google. Uma derrota pode abrir precedentes para outros gigantes, como Apple, Amazon e Meta, que enfrentam investigações antitruste. Analistas, como Bruno Dreux, presidente da Associação Brasileira de Publicidade, sugerem que o fim do monopólio pode reduzir custos de anúncios, ampliar opções para agências e melhorar a remuneração de produtores de conteúdo. No entanto, a incerteza política, com a recente posse de Donald Trump, que iniciou investigações contra big techs em seu primeiro mandato, adiciona complexidade. Especialistas como Vicente Bagnoli, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destacam que o Judiciário americano opera com independência, mas a postura de Trump sobre regulação tecnológica permanece imprevisível. Enquanto o Google planeja recorrer de decisões adversas, o julgamento testará a capacidade das leis antitruste, criadas há mais de um século, de controlar o poder das gigantes da tecnologia em uma era digital em constante evolução.
O processo também reflete um momento de transformação na internet. Com o avanço da inteligência artificial, como os modelos AI Overviews do próprio Google, e a ascensão de plataformas como TikTok e Amazon como alternativas de busca, o mercado está mais competitivo. Contudo, os 90% de participação do Google nas buscas nos EUA, segundo a Similarweb, mostram sua hegemonia. A decisão de Mehta, esperada até agosto de 2025, pode obrigar a empresa a oferecer opções de escolha de buscadores nos dispositivos ou até a desmembrar partes de seu império, como o Android ou o YouTube, em um eco do desmantelamento da AT&T em 1984. Para consumidores, as mudanças podem significar mais opções, mas também incertezas sobre a qualidade e acessibilidade dos serviços digitais que moldam o cotidiano global.
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