Em 23 de março de 2025, as pequenas empresas brasileiras enfrentam um cenário cada vez mais desafiador. Com a taxa Selic mantida em 10,5% ao ano pelo Banco Central desde meados de 2024, os juros altos se tornaram um obstáculo quase intransponível para empreendedores que lutam para manter seus negócios vivos. O custo elevado do crédito, aliado à inflação persistente e à queda no consumo, está sufocando o empreendedorismo, especialmente para os micro e pequenos negócios, que representam 99% das empresas do país e geram mais de 50% dos empregos formais, segundo o Sebrae.
O Peso dos Juros no Bolso do Empreendedor
Para quem administra uma pequena empresa, pegar empréstimos ou financiar dívidas virou uma missão arriscada. Dados do Banco Central mostram que, em fevereiro de 2025, a taxa média de juros para pessoas jurídicas chegou a 20,3% ao ano, uma das mais altas em cinco anos. Isso significa que, ao tomar R$ 10 mil emprestados, um pequeno comerciante pode acabar devendo quase R$ 12 mil em apenas 12 meses — sem contar os encargos extras que os bancos costumam cobrar. “É como se a gente trabalhasse só para pagar juros, sem sobrar nada para crescer”, desabafa Ana Ribeiro, dona de uma padaria em Magé, que precisou recorrer a um empréstimo para cobrir o aumento no preço da farinha.
O crédito caro não é o único vilão. Com a Selic alta, o custo de capital para investimentos também sobe, desencorajando expansões ou contratações. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 62% das pequenas empresas reduziram planos de investimento em 2024, optando por “sobreviver” em vez de arriscar. Isso cria um ciclo vicioso: menos crescimento leva a menos empregos, o que reduz o poder de compra da população e, por fim, afeta ainda mais as vendas desses negócios.
Inflação e Consumo em Queda
Além dos juros, a inflação, que acumula 4,8% nos últimos 12 meses segundo o IBGE, continua pressionando os custos operacionais. Matérias-primas, aluguel e energia elétrica — itens essenciais para qualquer empresa — estão mais caros, enquanto os consumidores, com menos dinheiro no bolso, cortam gastos não essenciais. “Minha clientela caiu quase 30% no último ano. As pessoas estão comprando só o básico”, conta João Silva, dono de uma loja de roupas em São Paulo. O resultado é uma margem de lucro cada vez mais apertada, levando muitos empreendedores a fechar as portas. Só em 2024, o Sebrae registrou o encerramento de 320 mil microempresas no Brasil.
Um Futuro Incerto
O Banco Central justifica a Selic elevada como uma medida para conter a inflação, mas críticos apontam que a estratégia está sacrificando o crescimento econômico. “Os juros altos ajudam a segurar os preços, mas matam a economia real, especialmente os pequenos, que não têm fôlego para aguentar”, avalia Mariana Costa, economista da FGV. Enquanto grandes corporações conseguem negociar taxas melhores ou acessar crédito internacional, as pequenas empresas ficam à mercê de um sistema financeiro que parece ignorar suas necessidades.
O governo federal anunciou, em janeiro de 2025, um pacote de R$ 15 bilhões em linhas de crédito subsidiado via BNDES para micro e pequenas empresas, mas a burocracia e os critérios restritivos têm limitado o alcance da medida. “Demorei três meses para conseguir aprovar um pedido, e o valor liberado não cobriu nem metade do que eu precisava”, reclama Ana Ribeiro. Sem alívio imediato, muitos empreendedores estão recorrendo a soluções informais, como agiotas, ou simplesmente desistindo.
O Impacto na Sociedade
O sufocamento das pequenas empresas vai além dos números. Esses negócios são a espinha dorsal das comunidades locais, gerando empregos e movimentando a economia de cidades como Magé, onde grandes indústrias são raras. Quando uma padaria ou uma loja de bairro fecha, o impacto é sentido por funcionários, fornecedores e até pelos clientes que dependiam daquele serviço. “Se eu quebrar, cinco famílias ficam sem renda”, alerta João Silva.
Para os especialistas, a solução passa por uma combinação de juros mais baixos, incentivos fiscais e acesso facilitado ao crédito. Mas, enquanto o Banco Central mantém sua política restritiva e o governo patina nas promessas, as pequenas empresas seguem na corda bamba. Em 2025, o empreendedorismo brasileiro, tão celebrado como motor de inovação e resiliência, corre o risco de ser esmagado por um sistema que prioriza o controle da inflação em vez da sobrevivência de quem faz a economia girar.
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