Em 23 de março de 2025, uma reportagem publicada pelo site The Information revelou que a Apple está enfrentando perdas superiores a US$ 1 bilhão anuais com seu serviço de streaming, o Apple TV+. A notícia, baseada em informações de duas fontes próximas à empresa, joga luz sobre os desafios financeiros da plataforma, lançada em 2019 com a promessa de revolucionar o mercado de conteúdo digital. Apesar de sucessos como Ted Lasso e Severance, a Apple TV+ ainda não encontrou o equilíbrio entre investimentos bilionários e retorno lucrativo, levantando questões sobre sua estratégia em um setor altamente competitivo.
Um Investimento Bilionário
Desde o lançamento, a Apple destinou mais de US$ 5 bilhões por ano para a produção de conteúdo original, apostando em séries e filmes de alta qualidade com elencos estelares e diretores renomados. Essa estratégia rendeu prêmios — como o Oscar de Melhor Filme para CODA em 2022 — e mais de 2.500 indicações a premiações, segundo o CEO Tim Cook. No entanto, o custo elevado não se traduziu em uma base de assinantes capaz de cobrir as despesas. Em 2024, a empresa reduziu o orçamento em cerca de US$ 500 milhões, passando a gastar US$ 4,5 bilhões, mas as perdas persistem.
A Apple TV+ conta com cerca de 45 milhões de assinantes, um número expressivo, mas pequeno se comparado aos gigantes do setor. A Netflix, líder do mercado, tem mais de 300 milhões de usuários, enquanto a Disney+ ultrapassa os 124 milhões. Parte desse gap pode ser explicada pela abordagem da Apple: ao contrário de concorrentes que oferecem vastos catálogos com conteúdos licenciados, a Apple TV+ foca quase exclusivamente em produções originais, o que limita sua quantidade de títulos disponíveis.
Por Que o Prejuízo?
O modelo de negócios da Apple TV+ foi desenhado para aceitar perdas iniciais. Um ex-funcionário da empresa, citado pelo The Information, revelou que o plano original previa déficits entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões nos primeiros dez anos. Isso é comum no mercado de streaming, onde serviços como Disney+ também levaram anos para se tornar lucrativos. Mas, para a Apple, o ritmo de crescimento dos assinantes não acompanhou os gastos. Séries como Severance, que custa cerca de US$ 20 milhões por episódio, atraem audiência e crítica, mas não parecem suficientes para transformar a plataforma em um sucesso financeiro.
Outro fator é a falta de um apelo de massa. Enquanto Netflix e Amazon investem em conteúdos variados para diferentes públicos, a Apple TV+ mantém uma linha editorial mais restrita, voltada para produções de prestígio. Isso conquista elogios, mas não necessariamente o volume de assinantes que justifique os investimentos. Além disso, a plataforma não oferece uma opção mais barata com anúncios, algo que rivais como Netflix e Disney+ já adotaram para atrair mais usuários.
O Cenário Maior
Para a Apple, uma gigante com receita de US$ 391 bilhões e lucro líquido de US$ 93,7 bilhões em seu ano fiscal de 2024, perder US$ 1 bilhão por ano no streaming é um valor manejável. A Apple TV+ faz parte do segmento de Serviços, que inclui Apple Music, iCloud e App Store, e gerou US$ 96 bilhões no último ano. Nesse contexto, o prejuízo da plataforma é quase uma nota de rodapé nas finanças da empresa. A estratégia parece ser de longo prazo: usar o streaming para fortalecer o ecossistema Apple, incentivando a fidelidade de usuários de iPhone, iPad e Mac, que recebem meses grátis de assinatura ao comprar dispositivos.
O Que Vem Pela Frente?
A Apple já deu sinais de ajustes. Além de cortar gastos, a empresa abriu o Apple TV+ para dispositivos Android e fez parcerias, como o pacote StreamSaver com Netflix e Peacock por US$ 15 mensais nos EUA. Ainda assim, analistas questionam se isso será suficiente. A concorrência está aquecida, e serviços como Netflix já lucram bilhões, enquanto a Apple TV+ segue no vermelho.
Para o público brasileiro, onde a assinatura custa R$ 21,90 por mês, a plataforma oferece qualidade, mas ainda é vista como um complemento, não um essencial. A pergunta que fica é: até quando a Apple estará disposta a absorver essas perdas? Por ora, o foco em conteúdo premium continua, mas o futuro da Apple TV+ dependerá de encontrar um equilíbrio entre prestígio e lucro — algo que, até agora, parece distante.
Share via: