Dólar em alta: como as empresas brasileiras estão enfrentando a crise cambial

O dólar comercial fechou esta terça-feira, 11 de março de 2025, cotado a R$ 5,85, um salto de 15% desde o início do ano, segundo dados do Banco Central. A escalada da moeda americana, impulsionada por incertezas globais e fragilidades fiscais internas, tem colocado as empresas brasileiras diante de um desafio monumental: como sobreviver à crise cambial que encarece insumos, pressiona dívidas e ameaça margens de lucro? Enquanto algumas companhias buscam saídas criativas, outras enfrentam o risco de sucumbir à tempestade econômica.

A tormenta do câmbio

A valorização do dólar não é novidade no Brasil, um país historicamente acostumado à volatilidade cambial. Mas o cenário atual tem fatores agravantes. Nos Estados Unidos, a reeleição de Donald Trump em novembro de 2024 trouxe promessas de políticas protecionistas, elevando os juros e atraindo investidores para o dólar. No front interno, o governo Lula enfrenta críticas por atrasos na aprovação de um pacote fiscal robusto, o que alimenta a desconfiança do mercado. “O real está em uma espiral de depreciação, e a falta de clareza nas contas públicas só piora a situação”, avalia Mariana Lopes, economista-chefe da Consultoria Tendências.

Para as empresas, o impacto é imediato. Indústrias que dependem de matérias-primas importadas, como eletrônicos e autopeças, veem os custos dispararem. A fabricante de componentes automotivos MetalSul, de São Paulo, relata um aumento de 20% nos gastos com aço inoxidável importado desde janeiro. “Estamos renegociando com fornecedores e buscando alternativas locais, mas nem tudo pode ser substituído”, admite João Carlos Mendes, diretor financeiro da companhia.

Estratégias de sobrevivência

Diante da crise, as empresas brasileiras estão adotando táticas variadas para se adaptar. Uma das mais comuns é o hedge cambial, prática que usa instrumentos financeiros como contratos futuros e swaps para travar a taxa de câmbio e proteger o caixa. A gigante do agronegócio Bunge, que exporta soja e importa fertilizantes, intensificou essas operações em 2025. “O hedge nos dá previsibilidade, mas o custo subiu 30% com a volatilidade”, explica Ana Ribeiro, gerente de tesouraria da empresa.

Outras companhias apostam na diversificação. A varejista de moda Lojas Renner, por exemplo, reduziu em 15% sua dependência de tecidos asiáticos, investindo em fornecedores nacionais e na América Latina. “É uma transição cara e demorada, mas nos deixa menos expostos ao dólar”, diz o CEO, Fabio Almeida. Já a exportadora de café Cooxupé, sediada em Minas Gerais, celebra a alta da moeda americana, que torna seus grãos mais competitivos no exterior. “Nossa receita em reais cresceu 18% só neste trimestre”, comemora o presidente Carlos Augusto Silva.

Nem todas, porém, conseguem se beneficiar. Pequenas e médias empresas (PMEs), que representam 70% dos negócios no Brasil, sofrem com a falta de acesso a ferramentas sofisticadas de proteção cambial. “Muitas não têm estrutura para fazer hedge ou renegociar dívidas em dólar. O resultado é corte de pessoal ou aumento de preços”, alerta Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

O peso das dívidas

Outro golpe vem das dívidas em moeda estrangeira. Um levantamento da consultoria Economatica aponta que, das 102 maiores empresas listadas na B3 com débitos em dólar, o custo dessas obrigações subiu de R$ 353 bilhões para R$ 392 bilhões entre outubro e março, apenas por efeito cambial. A companhia aérea Gol, que já enfrenta recuperação judicial, viu sua dívida em dólares saltar 12% em três meses, pressionando ainda mais seu plano de reestruturação.

“Sem estratégias de cobertura, o impacto no balanço é brutal. Muitas empresas vão sacrificar investimentos para pagar juros”, explica Einar Rivero, responsável pelo estudo. Para evitar o colapso, algumas estão recorrendo a renegociações com credores internacionais, enquanto outras buscam captar recursos no mercado interno, mesmo com a Selic em 10,5%.

Um futuro incerto

A alta do dólar também respinga no consumidor. Produtos como eletrônicos, combustíveis e até o pãozinho — devido ao trigo importado — já começam a pesar mais no bolso. “A inflação pode fechar o ano acima de 5%, se o câmbio não ceder”, prevê Lopes, da Tendências. O Banco Central, por sua vez, sinaliza intervenções no mercado, mas as reservas internacionais, que caíram 7% em 2024 para US$ 330 bilhões, limitam sua margem de manobra.

Enquanto isso, as empresas brasileiras seguem em um cabo de guerra entre resiliência e vulnerabilidade. Para as exportadoras, o dólar alto é um vento a favor; para as importadoras e endividadas, uma tormenta sem data para acabar. Em um país onde a economia dança ao ritmo do câmbio, o desafio é encontrar equilíbrio em meio ao caos — e torcer para que a próxima cotação traga alívio, não mais turbulência.

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