Um dos maiores ícones do Brasil e do mundo, o Cristo Redentor, está no centro de uma discussão que pode definir seu futuro como ponto turístico. Após a trágica morte de um turista gaúcho no último domingo (16), o monumento foi parcialmente interditado, e uma vistoria marcada para esta terça-feira (18) decidirá se ele será reaberto ao público. A inspeção, que começou às 7h da manhã com a presença de autoridades estaduais e representantes das concessionárias responsáveis, busca avaliar a segurança e a infraestrutura do local, trazendo à tona questões de acessibilidade e atendimento médico que há tempos preocupam visitantes e moradores.
O que motivou a interdição?
A interdição parcial do Cristo Redentor foi decidida na segunda-feira (17) depois que Jorge Alex Duarte, de 54 anos, sofreu um infarto enquanto subia as escadarias que levam ao monumento. O incidente ocorreu por volta das 7h39, mas o atendimento médico só chegou às 8h13, quando uma equipe do Samu constatou o falecimento. A ausência de socorristas no local no momento do ocorrido gerou indignação e levou o Procon-RJ e a Secretaria Estadual de Defesa do Consumidor (Sedecon) a suspender a venda de ingressos para o Trem do Corcovado e as vans das Paineiras, principais meios de acesso ao santuário.
Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor, classificou a situação como “inaceitável”. “Um cartão-postal como o Cristo Redentor não pode operar sem garantir a segurança mínima aos visitantes. Os postos médicos estavam fechados fora do horário de funcionamento, o que é uma clara violação dos direitos do consumidor e das normas de concessão”, afirmou em coletiva na noite de ontem.
A vistoria de hoje: o que está em jogo?
A inspeção desta manhã envolve uma força-tarefa composta por membros do Corpo de Bombeiros, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – que administra o Parque Nacional da Tijuca –, além de técnicos da Sedecon e do Procon-RJ. O objetivo é verificar as condições estruturais do complexo e garantir que medidas emergenciais sejam implementadas antes de qualquer reabertura.
Entre as exigências imediatas estão:
- Funcionamento contínuo dos postos médicos: Os dois postos de saúde no local, um sob responsabilidade da Trem do Corcovado e outro da Paineiras Corcovado, devem operar desde a chegada do primeiro visitante até a saída do último.
- Presença de ambulância: Uma unidade móvel de atendimento médico deverá estar disponível no Alto do Corcovado durante todo o horário de visitação.
- Melhorias em acessibilidade: Rampas e outras adaptações são cobradas há meses por entidades de defesa do consumidor, já que o monumento ainda não é plenamente acessível a pessoas com mobilidade reduzida.
A expectativa é que, caso as condições sejam atendidas, o Cristo Redentor seja liberado ainda hoje, às 7h30, para o primeiro horário de visitação. Caso contrário, a interdição pode se estender, afetando milhares de turistas e a economia local.
Um histórico de problemas
Não é a primeira vez que o Cristo Redentor enfrenta críticas relacionadas à infraestrutura. Em fevereiro deste ano, a Sedecon já havia notificado o ICMBio exigindo ações para melhorar a acessibilidade, um problema que persiste apesar das mais de 2 milhões de visitações anuais. Elevadores quebrados, escadas íngremes sem alternativas e a falta de sinalização adequada são queixas frequentes de quem passa pelo local.
O governador Cláudio Castro reforçou o compromisso do estado com a segurança no monumento. “O Cristo é um símbolo do Rio e do Brasil. Não vamos tolerar que falhas ponham em risco a vida de turistas e trabalhadores. Estamos acompanhando cada passo para que ele volte a ser um lugar seguro e acolhedor”, declarou.
Repercussão e o clamor por mudanças
A morte de Jorge Alex Duarte desencadeou uma onda de comoção e críticas nas redes sociais. Familiares da vítima, como a nora Melissa Schiwe, enfermeira que tentou socorrê-lo, relataram a demora no atendimento. “Eu fiz o que pude, mas não tinha ninguém para ajudar. É revoltante que um lugar tão famoso esteja tão despreparado”, desabafou.
Enquanto isso, a Arquidiocese do Rio de Janeiro anunciou que disponibilizará uma ambulância própria para atividades religiosas no santuário e que uma missa em memória do turista será realizada ao meio-dia desta terça-feira, presidida pelo reitor Padre Omar.
O que vem pela frente?
Além das medidas emergenciais, a reunião de ontem no Palácio Guanabara definiu a criação de uma comissão permanente para monitorar a acessibilidade e a qualidade dos serviços no Cristo Redentor. Projetos de médio e longo prazo, como a reforma de elevadores e escadas rolantes, também estão na pauta, mas dependem de aprovação do ICMBio e de recursos das concessionárias.
Por ora, os olhares estão voltados para o resultado da vistoria. O desfecho de hoje não apenas determinará a reabertura do monumento, mas também pode marcar um ponto de virada na forma como o Brasil cuida de um de seus maiores patrimônios. Enquanto as equipes trabalham no alto do Corcovado, turistas e moradores aguardam ansiosos por uma solução que una segurança, acessibilidade e o charme inconfundível de um dos lugares mais visitados do planeta.
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