Na última semana, a China apresentou ao mundo o Manus AI, uma inteligência artificial autônoma que está sendo aclamada como a primeira de seu tipo, capaz de executar tarefas complexas sem supervisão humana. Lançado em 6 de março de 2025 pela startup Monica, com sede em Shenzhen, o Manus não é apenas mais um chatbot ou assistente virtual: ele pensa, planeja e age de forma independente, prometendo revolucionar setores como finanças, recrutamento e educação. Mas, enquanto o entusiasmo global cresce, também surgem preocupações sobre o impacto dessa tecnologia no mercado de trabalho e os desafios éticos que ela traz.
Uma IA que vai além
Diferentemente de modelos como o ChatGPT, da OpenAI, ou o Gemini, do Google, que dependem de comandos humanos para operar, o Manus AI é projetado para tomar decisões e executar ações por conta própria. Em uma demonstração pública, o cientista-chefe da Monica, Yichao “Peak” Ji, mostrou o sistema criando um site do zero, analisando ações da Tesla e até selecionando candidatos para uma vaga de engenheiro com base em currículos — tudo sem intervenção humana. “Não é apenas um gerador de ideias; o Manus entrega resultados”, declarou Ji, destacando que o objetivo é “unir mente e ação” em uma única plataforma.
O sistema funciona como um “agente geral”, coordenando múltiplos modelos de IA especializados para realizar tarefas que vão desde planejar uma viagem ao Japão até comparar políticas de seguro. Segundo o site oficial (manus.im), o Manus supera o DeepResearch da OpenAI no benchmark GAIA, que avalia a capacidade de assistentes de IA em resolver problemas reais de forma autônoma. Essa performance tem levado especialistas a compará-lo ao “momento Sputnik” da China em IA, semelhante ao impacto do DeepSeek, lançado em 2023.
Um salto tecnológico chinês
O surgimento do Manus desafia a percepção de que os Estados Unidos lideram incontestavelmente o desenvolvimento de inteligência artificial. Após anos de investimentos maciços em tecnologia, a China parece ter dado um salto com essa IA autônoma. Enquanto o Vale do Silício ainda trabalha em sistemas que requerem supervisão humana, o Manus já opera em um modelo de “industrialização da inteligência”, como descreveu Craig Smith em artigo na Forbes. “Empresas podem ser forçadas a substituir humanos por necessidade, não por escolha”, alertou o ex-membro da Comissão Nacional de Segurança em IA dos EUA.
Atualmente em fase de teste fechado (invite-only), o Manus tem gerado frenesi: códigos de acesso estão sendo revendidos por milhares de dólares em plataformas chinesas como Xianyu, e relatos de usuários no X descrevem a ferramenta como “impressionante” e “revolucionária”. No entanto, nem tudo são elogios. Testes iniciais apontaram falhas, como erros em tarefas simples (como reservar um voo) ou omissões em análises, sugerindo que o sistema ainda está em desenvolvimento.
O impacto no trabalho humano
A capacidade do Manus de substituir humanos em tarefas que exigem análise, planejamento e execução levanta uma questão inevitável: o que isso significa para o futuro do emprego? Em um exemplo prático, o sistema pode revisar centenas de currículos, cruzar dados de tendências de mercado e entregar uma lista de candidatos ideais em minutos — algo que levaria horas ou dias para um profissional de recursos humanos. Em finanças, ele analisa transações e gera relatórios com uma precisão que desafia especialistas experientes.
Essa eficiência, porém, acende um alerta. “Se uma IA autônoma como o Manus toma uma decisão financeira errada ou causa prejuízo, quem será responsabilizado?”, questiona Mel Morris, CEO da Corpora.ai, em entrevista ao The Independent. A falta de regulamentação clara, tanto na China quanto no Ocidente, é um ponto de preocupação. Enquanto Pequim tem adotado uma postura mais permissiva para experimentação em IA, os EUA e a Europa ainda operam sob a premissa de que máquinas precisam de supervisão humana — uma ideia que o Manus desafia diretamente.
Reações globais e o que vem pela frente
A comunidade internacional reagiu com uma mistura de fascínio e cautela. No Vale do Silício, o lançamento do Manus é visto como um sinal de que a China pode estar à frente na corrida por agentes de IA autônomos, forçando empresas como OpenAI e Anthropic a acelerar seus projetos. Sam Altman, CEO da OpenAI, já havia previsto em janeiro que agentes de IA entrariam no mercado de trabalho em 2025, mas o Manus parece ter chegado antes do esperado.
No Brasil, posts no X refletem o espanto com a tecnologia: “O Manus está automatizando 50 tarefas ao mesmo tempo. É distópico e genial”, escreveu um usuário. Enquanto isso, a Monica planeja abrir partes do código do Manus para a comunidade open-source ainda este ano, o que pode ampliar seu alcance e impacto.
O Manus AI é, sem dúvida, um marco na evolução da inteligência artificial. Ele promete transformar a relação entre humanos e máquinas, mas também coloca o mundo diante de um dilema: até que ponto estamos prontos para delegar tarefas cruciais a uma IA que não pede permissão? Por ora, o futuro do trabalho e da tecnologia parece estar sendo moldado em Shenzhen — e o resto do planeta corre para acompanhar.
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