Israel intensifica ataques contra terroristas do Hamas após recusa na libertação de reféns

A relativa calmaria de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas ruiu nesta terça-feira, quando as Forças de Defesa de Israel (IDF) desencadearam uma série de ataques aéreos e terrestres em larga escala na Faixa de Gaza. A ofensiva, que já deixou mais de 400 mortos segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, foi uma resposta direta à recusa do grupo palestino em libertar reféns israelenses, conforme exigido em negociações recentes mediadas por Qatar, Egito e Estados Unidos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu “força militar crescente” contra o Hamas, sinalizando o fim de tréguas temporárias e o início de uma nova fase de confrontos intensos.

O colapso do cessar-fogo

O cessar-fogo, implementado em janeiro de 2025 após 15 meses de guerra, trouxe um alívio temporário à região. Durante a primeira fase do acordo, o Hamas libertou 33 reféns – incluindo mulheres, crianças e idosos – em troca de cerca de 1.900 prisioneiros palestinos libertados por Israel. A trégua também permitiu a entrada de ajuda humanitária em Gaza e a retirada parcial de tropas israelenses de áreas povoadas. No entanto, as negociações para a segunda fase, que envolveria a libertação de reféns homens e uma retirada mais ampla das forças israelenses, emperraram nas últimas semanas.

Israel acusou o Hamas de “repetida recusa” em cumprir os termos acordados, enquanto o grupo exigiu garantias de que poderia manter o controle político em Gaza após o fim do conflito – uma condição inaceitável para o governo Netanyahu, que mantém como objetivo declarado a destruição total das capacidades militares e administrativas do Hamas. “Não haverá mais pausas humanitárias enquanto nossos cidadãos estiverem em cativeiro”, declarou o porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, em entrevista coletiva na manhã de hoje.

A ofensiva militar

Os ataques começaram nas primeiras horas de 18 de março, com caças e drones israelenses atingindo dezenas de alvos em Gaza, incluindo células terroristas, depósitos de armas e infraestrutura militar do Hamas. A IDF informou que ao menos 200 militantes foram eliminados nas primeiras 12 horas da operação, entre eles comandantes de médio escalão responsáveis por ataques com foguetes contra o sul de Israel. Imagens divulgadas mostram colunas de fumaça subindo de Gaza City e explosões iluminando o céu noturno, enquanto tanques israelenses foram posicionados ao longo da fronteira, sugerindo uma possível incursão terrestre iminente.

O Ministério da Saúde de Gaza reportou que os bombardeios atingiram áreas densamente povoadas, resultando em centenas de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças. Hospitais locais, já sobrecarregados pela guerra anterior, entraram em colapso, com relatos de corpos sendo empilhados em corredores devido à falta de espaço e suprimentos. “Isso é um massacre deliberado”, afirmou um porta-voz do Hamas, acusando Israel de violar o direito internacional.

Reféns: o ponto de inflexão

A questão dos reféns permanece no cerne do conflito. Desde o ataque surpresa do Hamas em 7 de outubro de 2023, quando mais de 1.200 israelenses foram mortos e 251 capturados, Israel priorizou a libertação de seus cidadãos. Após a primeira fase do cessar-fogo, cerca de 94 reféns ainda estavam em mãos do Hamas, com estimativas indicando que pelo menos 34 já estavam mortos. Entre os capturados estão cinco americanos, cuja situação tem pressionado o governo dos EUA a buscar uma resolução rápida.

Na semana passada, o Hamas anunciou estar disposto a libertar um refém americano vivo e os corpos de quatro outros em troca de concessões significativas, mas não especificou uma data ou condições claras. Fontes próximas às negociações revelaram que o grupo rejeitou uma proposta dos mediadores que incluía a libertação de mais reféns sem garantias de um cessar-fogo permanente e da retirada total das tropas israelenses de Gaza. “O Hamas quer sobreviver a essa guerra como uma força política viável. Israel não permitirá isso”, analisou Shalom Lipner, ex-assessor do governo israelense, em entrevista à imprensa.

Reações internacionais

A retomada dos combates gerou condenações e apelos por contenção. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, chamou os ataques de “terríveis” e pediu um retorno imediato às negociações. A Arábia Saudita denunciou Israel “nos termos mais fortes”, enquanto a França pediu uma intervenção urgente da comunidade internacional. Nos Estados Unidos, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, afirmou que Washington continua comprometido em buscar a libertação dos reféns americanos, mas evitou criticar diretamente a ofensiva israelense.

Organizações humanitárias, como a ONU e a Cruz Vermelha, alertaram para uma catástrofe iminente em Gaza, onde mais de 2 milhões de civis enfrentam escassez de alimentos, água e medicamentos. “Sem combustível para os caminhões de ajuda, a distribuição será interrompida em breve”, disse um representante da ONU.

O que vem a seguir?

Analistas preveem que a escalada atual pode levar a uma nova invasão terrestre em Gaza, algo que Netanyahu havia prometido evitar enquanto as negociações estivessem em andamento. O premiê enfrenta pressão interna de famílias de reféns, que criticaram o governo por abandonar o cessar-fogo, e de aliados de extrema-direita, como o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que exigem a “eliminação total” do Hamas.

Enquanto isso, em Israel, sirenes de alerta soaram em cidades como Ashkelon e Sderot, com o Hamas lançando uma salva de foguetes em retaliação aos ataques. A guerra, que já matou dezenas de milhares desde outubro de 2023, parece longe de um desfecho. “Israel está determinado a resgatar seus reféns e desmantelar o Hamas, custe o que custar”, disse o ministro da Defesa, Yoav Gallant. “Não há volta atrás.”

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