Valdemar e Moraes: o encontro que selou a liberação de contato com Bolsonaro

Na tarde desta terça-feira, 11 de março de 2025, um encontro de cerca de 20 minutos no Supremo Tribunal Federal (STF) marcou um novo capítulo na relação entre o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e o ministro Alexandre de Moraes. A reunião, acompanhada pelo advogado de Valdemar, Marcelo Bessa, resultou na revogação das medidas cautelares que, desde fevereiro de 2024, proibiam o político de manter contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro. A decisão, anunciada horas após o encontro, foi celebrada pela cúpula do PL e reacende debates sobre o papel de Moraes no cenário político brasileiro.

O contexto da reunião

O encontro entre Valdemar e Moraes ocorreu após a defesa do presidente do PL protocolar, na manhã do mesmo dia, um pedido formal para suspender as restrições impostas no âmbito da Operação Tempus Veritatis. Essa investigação, que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, havia colocado Valdemar e Bolsonaro sob medidas cautelares, como a proibição de comunicação direta, a retenção de passaportes e a apreensão de bens. Embora Valdemar tenha sido indiciado pela Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) optou por não denunciá-lo, o que abriu caminho para o pleito de sua defesa.

Durante a reunião no STF, Valdemar argumentou que a ausência de denúncia formal contra ele tornava injustificável a manutenção das restrições. Moraes, relator do inquérito, acolheu o pedido em decisão publicada ainda na terça-feira, afirmando: “Não estão mais presentes os requisitos necessários à manutenção das medidas cautelares anteriormente impostas”. Além de liberar o contato com Bolsonaro, o ministro determinou a devolução de bens apreendidos, como relógios de luxo e computadores, e suspendeu a proibição de Valdemar deixar o país.

Um reencontro aguardado

A decisão põe fim a mais de um ano de separação forçada entre Valdemar e Bolsonaro, líderes do PL e figuras centrais do campo conservador brasileiro. Desde fevereiro de 2024, os dois recorriam a intermediários para tratar de assuntos partidários, evitando encontros diretos, mesmo em eventos públicos. O único momento em que estiveram próximos, sob autorização judicial, foi na missa de sétimo dia da mãe de Valdemar, Leila Caran Costa, em dezembro de 2024, em Mogi das Cruzes (SP), mas sem interação direta.

Com a liberação, Valdemar e Bolsonaro já conversaram por telefone na noite de terça-feira, em um diálogo descrito como “rápido e tranquilo” por interlocutores do PL. Um encontro presencial está agendado para esta quarta-feira, 12 de março, na sede do partido em Brasília. A expectativa é que a reunião, a portas fechadas, trate de estratégias para as eleições municipais de 2026 e do fortalecimento da oposição ao governo Lula.

Reações e impactos políticos

A cúpula do PL reagiu com entusiasmo. Em nota oficial, Valdemar declarou: “Recebi com tranquilidade a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Sempre confiei na Justiça, e hoje essa convicção foi reforçada”. Bolsonaro, por sua vez, celebrou a medida em uma live nas redes sociais, afirmando que “a verdade está prevalecendo” e que o encontro com Valdemar será “um marco para o futuro do Brasil”.

No entanto, o episódio também reacendeu críticas de adversários. Parlamentares da base governista, como o deputado Glauber Braga (Psol-RJ), sugeriram que a liberação reflete uma “negociação nos bastidores”, enquanto aliados de Bolsonaro, como a deputada Bia Kicis (PL-DF), aproveitaram para atacar Moraes, chamando-o de “juiz que decide o destino do país à revelia do povo”. Nos corredores do Congresso, especula-se que a decisão pode intensificar a polarização política nos próximos meses.

Uma relação marcada por altos e baixos

O encontro de 11 de março não é o primeiro entre Valdemar e Moraes. Em novembro de 2023, os dois se reuniram em um café da manhã no apartamento funcional do ministro em Brasília, fora das agendas oficiais, para discutir a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limitava decisões monocráticas no STF. Na ocasião, Valdemar se comprometeu a “sensibilizar” senadores do PL, mas a iniciativa não surtiu efeito, e a PEC foi aprovada no Senado.

A relação entre os dois também já teve momentos de tensão. Em 2022, Moraes multou o PL em R$ 22,9 milhões e bloqueou contas do partido por questionamentos às urnas eletrônicas, enquanto Valdemar, em 2024, chegou a ser preso temporariamente na Operação Tempus Veritatis por posse ilegal de arma. Apesar disso, o pragmatismo de Valdemar e a postura de Moraes como árbitro em investigações sensíveis parecem manter um canal de diálogo aberto.

O que vem pela frente?

A liberação do contato entre Valdemar e Bolsonaro ocorre em um momento estratégico para o PL, que busca se consolidar como principal força de oposição ao governo petista. Analistas políticos apontam que o encontro desta quarta-feira pode marcar o início de uma ofensiva para mobilizar a base bolsonarista, especialmente após as derrotas judiciais enfrentadas pelo ex-presidente, que segue alvo de inquéritos no STF.

Para Moraes, a decisão reforça sua imagem de magistrado que, embora criticado por suposta centralização de poder, atua com base em critérios técnicos — neste caso, a ausência de denúncia da PGR. Resta saber como esse novo capítulo influenciará o equilíbrio de forças no Brasil, onde o Judiciário, o Executivo e o Legislativo seguem em constante tensão.

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